segunda-feira, 25 de abril de 2011

uma nova mãe em mim

Um ano e quatro meses depois do nascimento da minha primeira filha, estou vivendo outra espera. Gravidez de risco, dores e repouso fazem parte dela. Felicidade, ansiedade e saudade louca também. Não é um amor como para a Luísa. É igualmente infinito, mas com outras cores, outras formas, outro tom... Um amor singular e completamente novo, que nasceu dentro de mim só pra ele. Como se ele fosse a única pessoa do mundo.

Eu queria poder adivinhar os seus traços, seus olhos, sua voz, seu futuro... Ele me pertence de forma tão completa, que enquanto existe dentro de mim, a química do seu corpo copia a química dos meus sentimentos. Mas eu não tenho controle sobre o que vai acontecer com ele no próximo segundo. Vamos ser cortados fisicamente um do outro e as separações vão ser cada vez mais profundas – e necessárias. Elas vão acontecer sem parar e vão ser desafiadoras pra nós dois. Carregadas de vitória e de saudade. A missão de uma mãe é um paradoxo: Tenho que ensiná-lo a precisar de mim cada vez menos. É a única maneira de crescer.

Mas agora... Eu ainda posso sentir seus membros em alto relevo na minha barriga, posso falar e saber que é a minha voz que ele escuta mais alto do que qualquer outra. Posso ter a certeza de que ele está confortável, pois tudo dentro de mim o está abraçando. E posso entender que gerar um filho é como tecer com Deus um fragmento da eternidade.




A vida do Arthur já começou. Está em mim e sempre esteve.

Nasce a mãe

Dois tracinhos cor de rosa.
Eu chorei e ri.
Positivo. Inesperado, mas positivo.
Nasce uma mãe. Desajeitada, sonhadora, assustada, ansiosa, morrendo de medo... mas uma mãe.
Mãe de alguém desconhecido, indefinido, ainda sem rosto pra mim. Mas pedaço meu.

Ali nasceu a mãe que eu já guardava.
Momentos, lembranças, palavras, imagens, lágrimas e alegrias que juntei a vida inteira, naquele momento formaram a mãe em mim.
Mais forte, mais decidida, mais viva do que eu era antes.
Ali, sem perceber tudo o que aquele momento significava... eu renasci melhor.




Publicado um ano atraz no meu blog www.nasceamae.blogspot.com

domingo, 15 de agosto de 2010

Outra mãe

Ontem conheci uma mãe com problemas tão grandes que me senti pequena. Notei um rosto que eu nunca tinha visto na igreja, e a procurei no final do culto para abraçá-la e dizer que seria sempre bem vinda. Quando a abracei ela me segurou junto de si e percebi que ela não estava acostumada a receber abraços. Vi em seu rosto que pouca saúde lhe restava, que tristezas e lutas lhe sobravam e muitas coisas lhe faltavam. Mas naquele primeiro olhar eu não pude imaginar tudo o que aqueles olhos pesados e corpo frágil vinham carregando. 11 filhos. Quatro já adultos não moram com ela e os outros 7 pequenos foram tirados pela justiça, pois as condições de sobrevivência que ela podia lhes dar eram subumanas.

Sua casa é no meio do mato, tão longe da minha quanto um lugar onde se pode construir sem ser notado, em um terreno sem dono, sem escritura, sem luz elétrica ou água. O chão da sua casa é a terra. As paredes de tijolos se erguem em torno de nada. Sem quarto, sem cama, sem banheiro, sem teto. Só as paredes mostram a esperança de que ali um dia seja construída uma casa de verdade. Quando houver uma casa ali, seus filhos poderão voltar. Só então eles terão pra onde voltar.

Ela anda todos os fins de semana uma distância absurda à pé pra buscar os filhos que foram autorizados pelo juiz a passarem os fins de semana com ela. E ela volta com eles andando a mesma distância absurda pra dentro de suas paredes sem teto.

Enquanto escrevo isso, minha filha está dormindo bem quentinha e confortável em um berço limpo, em um quartinho decorado com bichinhos de pelúcia e um lindo painel com a imagem de Jesus e do céu.

Eu posso fazer mais do que escrever sobre a história dessa mulher. Você pode fazer mais do que ler e lamentar por ela. Essa mulher precisa ser amada. Precisa mais do que abraços e consolo. Precisa de irmãos.

...

Estamos trabalhando para ajudá-la. Já temos algum material e vamos construir o banheiro e cobrir a casa dela. Se você puder e quiser nos ajudar de alguma forma, com alimentos, materiais de construção ou mesmo com trabalho, me mande um e-mail (hudson.erika@gmail.com).





“ Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos,
se tiverdes amor uns aos outros.” João 13.35



sexta-feira, 25 de junho de 2010

Saudade

Não há nada como a nossa casa. Nosso canto... um pedacinho do mundo com nossas cores, cheiros e texturas preferidas. Por melhor que tenha sido uma viagem, é sempre bom estar de volta a esse lugar que nos devolve tanto de nós. Chegar ao céu vai ser assim, só que melhor: mais intenso, mais surpreendente.

Como de repente encontrar as respostas que faltavam. Como descobrir a continuação daquele momento perfeito que chegou ao fim por que tinha mesmo que chegar, mas que dessa vez não acaba. Desse lado da eternidade, alguns dias muito, outros menos, Deus deixa escapar umas migalhinhas de felicidade pra nos fazer sentir mais saudade desse ALGO difícil de nomear. Essa ansiedade por um futuro que nunca chega... Dessa euforia que não combina com nada que conhecemos. ISSO é o que sempre faltou e sempre vai faltar até chegarmos LÁ. ISSO é o que nos agita procurando respostas em tantas coisas e em lugares de onde nunca sai o que estávamos procurando. É o sentido. É o que completa o que sempre falta em nós. É o nosso LAR, onde tudo em nossa alma finalmente se acalma e encontramos os motivos e os porquês, a plenitude para os espaços vazios, e o descanso pra essa viagem.




Saudade do Lar.

sábado, 12 de junho de 2010

Lar



A Felicidade e a segurança consolidadas que todos nós almejamos, Deus nos nega pela própria natureza do mundo
, mas a alegria, o prazer o contentamento, Ele transmite de maneira disseminada.
Nós nunca estamos seguros, mas nos divertimos muito e temos um certo êxtase. Não é difícil enxergarmos a razão: a segurança que almejamos nos ensinaria a colocar nossos corações neste mundo e contrapor um obstáculo ao nosso retorno a Deus. Alguns momentos de amor feliz, uma paisagem, uma sinfonia, um encontro divertido com nossos amigos, uma banho de mar ou uma partida de futebol, não têm essa tendencia. Nosso Pai nos alivia na jornada com algumas hospedarias agradáveis, mas não nos encorajará a confundi-las com o nosso lar.

C.S. Lewis



segunda-feira, 3 de maio de 2010

Desejo


Entendo de forma muito prática por que a relação entre mãe e filho é tantas vezes comparada na bíblia à relação entre Deus e o ser humano. Deus tem me dado algumas lições espirituais enquanto dedico quase todo o meu tempo cuidando, conhecendo e me apaixonando pela minha filhinha de três meses. Cada dia ela faz algo novo e encantador, e consigo enxergar o grande amor de Deus aprendendo sobre ela. Talvez por isso esse blog se pareça agora, muito mais com um diário sobre a maternidade (também pelo pequeno número de atualizações que a mamãe sem tempo tem sido capaz de realizar).

Os bebês conseguem controlar os movimentos da boca logo que nascem e durante algum tempo os movimentos dos membros e do pescoço ainda permanecem limitados em relação aos orais. A Luísa se parece com uma pequena, charmosa e redonda maquininha de sugar. Ela é capaz de – por fome ou por prazer - mamar praticamente o tempo todo. Quando termina o peito, ela mama a mão, a fralda e até o nariz do pai. Se alguma coisa passa perto daquela boquinha , ela se abre e tenta capturar o possível objeto de sucção. Esse é o desejo que move a nossa mamoninha quase todo o tempo enquanto ela está acordada. É seu instinto mais marcante, que o Pai lhe conferiu para garantir que nos lembraríamos de alimentá-la constantemente.

Enquanto está mamando, a Luísa se esquece de tudo. É o único momento que ela permite que cortemos suas unhas ou limpemos suas orelhas. Para mamar ela engole o choro, relaxa o corpinho e apenas olha para mim. Ignora os barulhos e fica confortável em qualquer posição. Nada lhe distrai da sua tarefa de mamar.

Pedro se apodera dessa característica dos recém-nascidos para explicar um desejo que dificilmente seria bem explicado de outra forma. Um desejo que mais se parece com um instinto de sobrevivência espiritual:

“Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação.” I Pedro 2:2


p.s. O instinto natural e/ou desejo ardente se perdeu em algum lugar durante a troca das naturezas, ou o texto não começaria com uma conjugação do verbo despojar.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Nasce a mãe


Meu novo blog sobre a experiência da maternidade:
nasceamae.blogspot.com

quarta-feira, 24 de março de 2010

Entrega



Ter um bebê – o meu bebê – nos braços é provar o gostinho da eternidade. É esquecer tudo o que é passageiro e ser inteira, abraçando o infinito. É sentir a mágica divina florescendo dentro do coração humano, que faz caber ali um amor que de outra forma não caberia. É milagre.

Um bebê não tem ambições, orgulho, inveja ou malícia... É puro seu desejo por aconchego e carinho. Nos braços da mãe ele se esquece do que antes o perturbou. Fecha os olhos de onde escorrem as ultimas lágrimas de um choro que se foi, se entrega completamente ao silêncio de um amor que ele conhece... e descansa.

Eu só entendi completamente a profundidade dessa entrega quando a recebi.

...

“Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo o meu olhar;

não ando a procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais pra mim.

Pelo contrário, fiz calar e sossegar minha alma;

como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe,

como essa criança é minha alma para comigo”

Salmos 131: 1 e 2




quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Luísa, o milagre



"Ah Senhor DEUS! Eis que tu fizeste os céus e a terra com o teu grande poder, e com o teu braço estendido; nada há que te seja demasiado difícil."
Jer. 32:17


Eu a vi. Na madrugada do domingo, dia 30 de agosto, em um sonho. Ela tinha 3 anos e me chamou de mamãe de um jeito que eu nunca vou esquecer. Eu a abracei e beijei desesperada... (no sonho eu sabia que a via pela primeira vez). Tinha os alguns traços meus, outros do pai. O cabelo cacheado, bochechas redondas e um sorriso aberto. Linda, como eu não poderia imaginar. Acordei radiante e passei o dia contando pra todos que Deus havia me mostrado a Luísa.

Grávida então há 18 semanas, estava tudo bem, até onde sabíamos.
Na noite daquele domingo senti algumas dores. Mas pareciam dores normais da gravidez e passaram logo. Fui dormir tranquila, depois de descrever pela centésima vez pro pai apaixonado, o rostinho da nossa filha.

Naquela noite, a Luísa estava saindo do útero.

Acordei na manhã seguinte em trabalho de parto. Eu não sabia o que era, mas sentia dores estranhas e perdi sangue. Corremos para o hospital angustiados, porém menos do que ficaríamos logo mais. Passamos por alguns médicos diferentes antes que minha obstetra chegasse ao hospital. Nas palavras e no rosto de todos eles, não podíamos colher esperanças. Um feto com pouco mais de 4 meses de idade gestacional não sobrevive depois de sair do útero da mãe.

Fui internada no hospital para aguardar o parecer da minha médica, que tampouco pôde me dar uma notícia melhor. Disse que não poderia, como médica, fazer nada. Tentaria entretanto, em uma cirurgia de emergência, empurrar a Luísa para dentro do útero novamente, o que segundo ela, certamente romperia a bolsa uterina e interromperia fatalmente a gestação. Ela disse que faria, mas que a chance de salvar a Luísa era de 1%, e que se desse certo, o sucesso não deveria ser atribuído a ela, mas a Deus.

Derramamos nossos corações na presença de dEle em oração. Família e amigos oraram conosco em todos os cantos do país.
Nos apegamos como crianças à promessa de Jesus: "E tudo quanto perdirdes em Meu nome, isso farei, afim de que o Pai seja glorificado no Filho." - João 14:13.
Entrei na sala de cirurgia confiante de que Deus ouvira as orações, e a Sua vontade seria feita. Minha filha ficaria bem, eu podia sentir. Afinal, antes de tudo começar, Ele havia me mostrado o rostinho dela.

Mas os médicos não tinham a mesma confiança. Um deles disse à minha médica depois da anestesia, ao ver a mesa de cirurgia cheia de sangue vivo e que a Luísa estava nascendo, que não havia nada a ser feito. O melhor seria não mexer em nada e me mandar de volta para o quarto pra esperar que o aborto acontecesse naturalmente. Mas ela decidiu ir adiante. Não tenho dúvida nenhuma - e nem ela tem - de que um anjo do Senhor (quem sabe o anjo da guarda da Luísa...) guiou suas mãos ao empurrar meu bebê de volta para o útero, sem romper a bolsa que a envolvia. Meu útero foi então costurado para segurá-la lá dentro até a hora de nascer.

Ficamos radiantes e agradecidos pelo milagre divino. Deus nos havia mostrado que a nossa ardente vontade era também a Sua.
Entendemos que muito maior que a saudade que já sentimos da nossa filhinha e que o amor que temos por ela, é o Seu amor. Ele ama a nós três muito mais do que somos capazes de nos amar. Ele quem costurou nossos corações juntos, pra que fôssemos uma família... tudo que somos capazes de fazer por amor, vem dEle.

Mas Ele tinha mais a nos ensinar nos próximos meses, através das lágrimas, da ansiedade, da dor... Precisavamos aprender sobre Ele, sobre nós dois, sobre a missão que a Luísa representa em nossa vida, eu precisava aprender sobre a maternidade, sobre minhas prioridades nesta terra, sobre o amor...

...

Uma semana após a cirurgia, deixamos o hospital. Voltamos pra casa com um diagnóstico de insuficiência cervical grave (útero incapaz de segurar um bebê), ordem médica de repouso absoluto pra mim até o nascimento do bebê, estatísticas médicas negativas com relação ao sussesso no restante da gravidez, alto risco de nascimento prematuro e mesmo de morte fetal causada por infecção, risco de laceração do útero, etc.

Se passaram três meses. Estou deitada e dependente pra tudo durante esses dias. Longos dias.
Deixei o trabalho, parei de ir às aulas... (estou formada, graças a provas orais, resenhas e TCC realizados durante esse período, na minha cama...)
Essa é sem dúvida a maior provação da minha vida. Sei que na vida do Hudson também.
Não é fácil... nem um minuto desses três meses foi fácil. Mas temos experimentado o milagre de Deus em cada um deles.

Sinto a Luísa crescendo dentro de mim todos os dias. Ela chuta forte e segundo os exames, está saudável e perfeita.
Estou completando já 8 meses de gestação, e ela está grande como um bebê de 8 meses e meio.
Pode nascer a qualquer momento...
Equanto isso, tento fortalecer nosso vínculo fazendo o culto com ela de manhã, cantando e orando pra que ela ouça...
Converso muito com ela e sei que se sente amada.

Não quero que passe um dia da sua vida sem que contemos o milagre que ela é.

Pra nós, tudo que está acontecendo é uma forma de Deus nos mostrar o quanto ela é especial, e a responsabilidade que temos de educá-la para Ele.

Esperamos ansiosos o momento em que poderemos vê-la e abraçá-la.
Mas ela nunca será nossa. Ela foi feita e preservada por um propósito muito maior do que nos fazer felizes.
Todo esse amor que temos por ela, foi dado por Deus, pra que ela aprenda sobre a natureza do amor dEle, que é ainda maior.
Somos instrumentos na vida da Luísa para guiar seus olhinhos às coisas eternas.

Não poderíamos sonhar com missão tão grandiosa.

...

"E Lhes darei um mesmo coração, e um só caminho, para que me temam todos os dias, para seu bem, e o bem de seus filhos, depois deles."
Jer 32:39