segunda-feira, 25 de maio de 2009

Condenado



Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Agora pois, mais nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
Romanos 8:1, 33 e 34



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Por volta de 1600, Oliver Cromwell, grande guerreiro, usurpou o trono britânico e se tornou o ditador da Inglaterra. Ele era conhecido por sua crueldade e pela rigorosa disciplina aplicada aos soldados do seu exército.

Em uma noite, encontrou o soldado que estava escalado para a guarda, dormindo em serviço. Aquele era um grave crime militar, e Cromwell não perderia a oportunidade de mostrar em público um pouco da sua austeridade.

O soldado é condenado à morte por fuzilamento. Quando o sino da torre da principal catedral de Londres tocasse, no próximo pôr-do-sol, a pena seria aplicada sem possibilidade de perdão, diante de todos.

Consciente de sua culpa, porém desesperado, o soldado chora copiosamente, preso em sua cela, diante da perspectiva da morte. Aquele soldado estava então com casamento marcado para dali a uma semana, com uma bela moça a quem ele muito amava. Quando recebeu a notícia a noiva ficou inconsolável, pois não podia suportar a ideia de viver sem seu grande amor.

As horas vão passando rapidamente, e aquele soldado sente cada vez mais perto a hora da sua morte. Pouco antes do pôr-do-sol ele é levado até o lugar do fuzilamento, onde será morto pelas armas dos seus colegas de batalhão, ao comando do general per quem ele lutara durante anos.

As tropas se alinham e todos se colocam em posição de atirar, aguardando apenas pelo primeiro som do sino.

Chega a hora. As armas estão apontadas, mas o sino não toca. Silêncio na multidão. O condenado aguarda pela morte de olhos fechados. Todos esperam o toque do sino que nunca havia falhado. Mas o barulho não vem.

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A noiva daquele soldado subiu as escadarias da catedral com esperança, até a torre onde ficava o sino. Momentos antes da execução, ela abraçou com o corpo franzino o badalo que pendia da grande cúpula de bronze. Era jogada fortemente de uma lado para o outro contra o metal, que dilacerava seu corpo. Seus braços mal tinham forças, mas ela abraçava a dor ainda com mais vontade.

As badaladas que sempre soavam ao pôr-do-sol, não foram ouvidas desta vez. Ela se colocou entre o badalo e o sino para abafar o som. Ela esperava segurar o tempo da morte do seu noivo. Queria salvá-lo, ainda que por breves momentos. Ela carregou sobre seu corpo aqueles terríveis segundos, mas era acalentada pela certeza de que ele ainda estava vivo.

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A multidão agitada e os soldados ainda em forma enxergam uma jovem que se aproxima do ditador. Está muito machucada e deformada. Se arrasta no chão deixando um rastro de sangue. Ela se ajoelha e pede pela vida de seu amado que a observa assustado, sem entender a dimensão daquela entrega.

O soldado foi poupado. Naquele dia não houve o toque do sino nem o fuzilamento do culpado. Mas a história não conta se o soldado se casou com aquela jovem com o corpo marcado pelo sacrifício.


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Quando Ele morreu, as vozes que gritavam pela minha condenação foram silenciadas. O universo parou pra tentar entender o sacrifício onde o Rei inocente se fez pecado por mim.

Minha chance foi renovada na dor que Ele sentiu. Na culpa. Na separação do Pai. No mal que Ele suportou para transformar em salvação.

Ele se colocou entre a justiça e a humanidade. Entre a morte e o condenado, pra que nada nem ninguém mais pudesse me separar dEle.

Nada, exceto minha vontade. Ninguém, exceto meu próprio eu.





Um comentário:

Julia Castilho disse...

"Nada, exceto minha vontade. Ninguém, exceto meu próprio eu." - N-A-D-A. Isso é muito bonito e me dá forças pra continuar todos os dias. Bonito blog, Tia Érika! Beijinhos, fique com Deus.

Julia Castilho

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